
Projetos
Infância Roubada
Documentário
Uma geração de filhos de perseguidos políticos e desaparecidos durante o regime autoritário que cresceram à sombra do medo, angustiados pela incerteza e expectativa de reaparecimento do pai ou mãe e que tiveram sua infância roubada.

Uma geração pouco conhecida. Crianças e adolescentes filhos de perseguidos políticos e desaparecidos durante o período autoritário, de 1964 a 1985. Seus pais sumiram de uma hora para outra. A espera durou uma noite, um mês, um ano ou mais. Ninguém sabia quando, e se, voltariam. Mesmo com tantas dúvidas, não deveriam comentar nada com ninguém.
Eles foram sequestrados e escondidos em centros clandestinos de repressão política da ditadura militar. Afastados de seus pais e suas famílias ainda crianças, foram enquadrados como elementos subversivos pelos órgãos repressivos e banidos do país. Foram obrigados a morar com parentes distantes, a viver com nomes e sobrenomes falsos. Foram, enfim, privados do cuidado paterno e/ou materno no momento mais decisivo de suas vidas: a infância. Cresceram à sombra do medo, angustiados pela incerteza e expectativa de reaparecimento do pai ou da mãe, vivendo dias, meses, anos à espera deles. Muitos tiveram a vida consumida por esta dúvida, sem que afinal tivessem direito sequer a um esclarecimento oficial sobre o destino de seus pais, um processo que deixaria marcas indeléveis. Levados aos cárceres da ditadura militar, foram confrontados com seus pais nus, machucados, recém-saídos do pau de arara ou da cadeira do dragão. Foram encapuzados, intimidados, sofreram torturas físicas e psicológicas.
Este documentário nasce da necessidade em colocar luz sobre a dimensão da violência cometida pela ditadura, trazendo um olhar diferenciado sobre esse período. É o olhar das crianças que tiveram sua infância roubada. Como uma geração de brasileiros, eles cresceram em um período de graves violações de direitos humanos e agressões ao direito da cidadania. Não tinham responsabilidade pelas opções políticas dos pais nem pela situação do país. Seus relatos emocionados traduzem o que conseguiam compreender daqueles dias tão difíceis para o país e para suas vidas.
Hoje adultos na faixa dos 40, 50 anos, suas histórias ainda não foram contadas. São depoimentos marcados por lembranças da prisão, do exílio, do desamparo, de questionamentos em relação às sua identidades, de medo, insegurança, isolamento solidão e vazio que, em muitos casos, são traumas não superados, momentos dolorosos, que muitos preferiam esquecer. O desafio de abrir o baú de lembranças, num exercício de sensibilidade importante para que essas histórias possam ser compartilhadas com outras pessoas e gerações.
É esse o objetivo do documentário: oferecer uma nova fonte de consulta, reflexão, divulgação e conhecimento sobre o período autoritário, contribuindo para aprofundar a compreensão tanto do cidadão comum, como da sociedade civil, governos, instituições, organizações sociais, historiadores e estudiosos em geral. O acolhimento de testemunhos de filhos de ex-presos políticos é fundamental para se ter um panorama da perversidade do aparato implantado pelo Estado de exceção.
A construção da democracia brasileira é um processo permanente e vivo, que precisa ser continuamente semeado. Para que as liberdades duramente conquistadas sejam apropriadas por todos. O conhecimento sobre o passado é capaz de iluminar o presente e abrir caminho para um futuro em que os direitos sejam respeitados e os deveres cumpridos. O olhar daquelas crianças aponta na direção do fortalecimento do Estado de Direito Democrático e da construção de uma cultura de respeito aos Direitos Humanos.